Recapitulemos algumas informações: Bleach é um anime/mangá que trás a história de um jovem japonês nos dias atuais, que se vê com poderes espirituais (pode ver espíritos) e com eles interage. Neste universo de espíritos (que já podemos notar algumas incorporações com a cultura católica), surgem uma variação de espíritos, conhecidos na série como Hollows. São almas de pessoas comuns que por uma razão ou outra, foram consumidas por suas pendências em vida e transformaram-se em “monstros” mascarados.
Partindo este ponto, podemos começar a nossa análise. De onde teriam surgido as influências para a criação destas máscaras? Segundo leituras de entrevistas do autor, publicadas em revistas de grande fomento no Japão, o autor faz referências a cultura mexicana pela sua complexidade em lidar com elementos da morte, visto que em nenhum outro país do mundo, a morte é vista da forma peculiar como é no México.
Neste ponto, apresento uma análise feita por Víctor José Moya Loiro¹
As máscaras foram uma ferramenta central do teatro evangelizador na Nova Espanha, mas os indígenas incorporaram-nas às suas tradições, fazendo de sua fabricação um exercício escultórico maior, além de dotá-las de significados mágicos, satíricos, bélicos, eróticos, didáticos. [...] No Estado de Guerreiro, representam-se diversas danças do "tigre", em alusão ao jaguar. As representações contam a história da caçada do felino que supostamente devastava o ganhado local. O hacendado vai a seu mayordomo para matá-lo e este ao não conseguir, vai por sua vez ao velho lanceiro, ao velho arqueiro e, finalmente, ao hábil atirador. Alguns autores afirmam que esta dança evocava originalmente em forma simbólica a vitória dos europeus sobre os indígenas (considerados "selvagens" como o jaguar, seu animal venerado).
Segundo algumas entrevistas do autor, Tite Kubo, seriam essas as bases das máscaras que envolveriam os rostos das almas alteradas, para ilustrar isso, eis a definição em um site de pesquisas popularmente acessado:

"A característica distinta dos Hollows, suas mascaras, é formada para esconder seu instinto vazio que é deixado pela perda do coração, e de certas formas é a demonstração tangível da loucura de um Hollow. As mascaras de diferentes Hollows diferem grandemente em tamanho e forma, mas elas são sempre brancas e parecidas com uma caveira. A máscara também esconde a identidade original do Hollow, mas se quebrada, o Hollow pode ser capaz de voltar temporariamente à sua forma e personalidade."
Frente a estes dois trechos, podemos fazer uma comparação entre as propriedades apresentadas pelo autor Víctor José Moya Loiro no que tange à cultura mexicana, o que se refira ao conceito apresentado no site de pesquisas correntes. Em algumas entrevistas, o autor da série Bleach, diz não ter tido a intenção primeira de mesclar um personagem mexicano a sua obra, mas que ao entrar em contato com a cultura, acabou por encontrar referenciais ricos o bastante, para criar esta classe antagonista.
Neste ponto, o hibridismo cultural se dá nessa “ressignificação” de um elemento já existente, a fim de apresentar novo significado. Claro que pode não ter sido a intenção do autor Tite Kubo apropriar-se destes elementos culturais para dar legitimidade ao seu trabalho ou mesmo reafirmar os elementos característicos, e nem é também o alvo deste artigo, o interessante para nós, é a utilização, a escolha do autor em pegar elementos folclóricos mexicanos e incorporar em seu trabalho.
Vale lembrar também que as máscaras não são uma exclusividade da cultura mexicana, muitíssimo pelo contrário, inclusive não fica claro em momento algum nas entrevistas com o autor, se são mesmo essa a base da sua influência, contudo, ao analisar o restante do anime/mangá e ver nomes e personagens mexicanos e também suas participações diretas no anime, é possível olhar mais atentamente para os detalhes e localizar essa aproximação de significados.